15 agosto 2019


  

Previsão do sentimento

Quando só, rabisco
Prática à toa
Chuvisco
Garoa

Quando pó, solidão
Sinto saudade
Trovão
Tempestade

Quando nós, luva
Alma leve
Chuva

Neve






Guarda-chuva

O vento inverteu meu guarda-chuva
Caí em queda livre
Aproveitei a situação e guardei
A chuva

Por um tempo controlei o tempo
Não me molhei
Poderoso, levava a água
Pesada em minhas mãos

Eis que num tropeço
Meu guarda comigo caiu
Me lavou
Fugiu

O mesmo vento inventou uma nova direção
Por isso, ali mesmo fiquei
Caído
Vendo voar sozinho meu guarda-chuva invertido






Mato desbotado


Mato seco desbota a calma do sertão
Descolore a sujeira dos calos da minha mão

Gota em gota transborda a lágrima do pão
Certezas e feridas de um luar em vão

E eu ando por aí visitando condição
No meu peito a urgir o clamor de um coração

Que ecoa e soa suor de um dito cão
Reflexo encardido, queimadas de verão 






Um novo ciclo de amizade  

Um ladrão invade uma casa
Depara-se com um outro invasor
O dono liga para a policia
A policia leva um investigador
A policia pede propina
O investigador pede mais

Um ladrão faz o outro ladrão de refém
O policial ameaça o investigador
Quando já muito se disputava
Chegou um terceiro ladrão
Todos caíram em intensa gargalhada...

O dono da casa ofereceu um café

Naquele dia surgiu um novo ciclo de amizade.








Basta 

Atesta-te o tanto que te testam
O vento fortifica o furacão
O cão fere fortemente tua casa

Preza-te que o tanto que te pedem
Pode ser que você não mais peça

Miseráveis mísseis em missão descontrolada
Plantão de alma amada
Sem calma
Sem estrada

Um cacto, um caco
Quieto no canto
Cantos e encantos nos cantos

No sussurro da falência
Permanece a carência
Sobressai a consciência
Que traz os pós
Dos sais
De tais
No mais
Basta.

08 dezembro 2015

Nada além

Nada além de cócegas me faz sorrir
Um toque sem sentimento
Um sorriso sem fundamento

Nada além de cebola me faz chorar
Um ar contaminado
Lágrimas sem respaldo

Nada além do sono me faz sonhar
Uma esperança inconsciente
Sonho inconsequente

Nada além do além me faz viver além de mim










Mosca

Uma mosca mais leve
Que leve uma asa
Que se debata no ar
Ferindo a gravidade
Numa acentuada velocidade
No pleno direito de estar

Uma mosca mais tosca que eu

Mais veloz que um avião
Mais espreita que o camburão

Uma mosca sanguinária
Desenha quadros de sangue meu

Enquanto seu canto em meus ouvidos soar
Enquanto diante de mim se por a bailar
Irei aplaudi-la








Amortecer

Tecer amor
Amortecer
A morte ser
Amortecer
Ser amor
Amortecer
Tecer a morte
Amortecer
Tecer e ser
Amortecer
Amor e ser
Amortecer

Amor-te-ser-mais

Amortecer
Amortecer
Amortecer

Amortecer...










Mais que nada

Máquina, máquina, máquina, máquina
Máquina mente
Maquina mente
Máquina, máquina, máquina, máquina
Máquina e mente
Máquina e mente
Maquinamente
Maquinamente

Maquina ta
Maquina ta
Maquina ta parada pra exterminar
Maquina da
Maquina da
Maquina da nossa espera germinar

Mínima máquina
Mínima máquina
Mínima máquina
Minimamente máquina

Quanto mais maquina
Mais mente
Mais mente maquinada
Mais morte de mente
Demente minimamente maquinado

Nas manobras da mente maquinada












Cabeça de fósforo

Explode tua cabeça
Na contramão do risco

Que se corre










Do berço ao túmulo

Caminhei (...)










Dois em um

Singulares está no plural?
Você está em mim?










Dopamina

Equilibre o calibre
Da dopamina
Calcule o caule
Da planta
Introduza a musa
Na arena
Ao semear o ar
Da terra

Cultive o culto
Do canto
Tateie a teia
Da aranha
Desdobre o dobro
Do necessário
Fomente a mente
Da certeza
Saboreie o ápice
Do apetite
Bendiga e diga mais
A seriedade
Pratique no pique
Do atípico
E amorteça a morte
Do teu ser










Gado

Obrigado a brigar pelo gado, pelo ar
Pelos pelos obriga(do) estar
(A)trair crianças inocentes
Sem ti(r)
Jovens delinquentes
Em todo e qualquer canto
Obrigado










Palco

Arte(fatos)










Cibernético

Chutando o vento
Olho para o além
E um prédio vai a frente

Modificaram minha célula
Passei a chutar o ar
Com os olhos na tela do celular

E as lojas me bombardeiam
Eu sei que preciso do produto
Devoro com o olhar, e o ar eu chuto

Me ofereço ao mercado
Inteligente e malhado
Impune a todo alheio insulto

É caô do cais, é o caos do cão
O cibernético corroendo o real
O real corroendo a realidade

Sangra a verdade
Nas dores da felicidade
Quanto mais prazer o corpo anseia
Tanto menos alma a vida invade